Escreveu para matar o invivido; porque Virgínia tinha milhares de vidas dentro da sua já escura, e essas vidas a incomodavam. Não foi para dar um tiro no escuro, pois é o contrário que acontece: se deixar, o escuro é que nos mata. Então ela arrebatou todos os seus anjos e demônios escrevendo, para que não vazassem e a atrapalhassem que ela não queria ser boa nem má – quis se separar das tantas vidas que a gente traz no sangue, e a vida, dizem, é uma só para se viver. Por isso nunca seria um escritora, não tinha a intenção de ficar conhecida, dar autógrafos e entrevista: era matar ou morrer. Esperta essa mulher – da psicologia ela não ia precisar, nem do sacerdote, muito menos da felicidade. Que alguém fosse ler suas palavras ensanguentadas para chamá-la de escritora e para lhe dar um estilo e talvez algum elogio ou crítica, isso não a interessava; no mais, que o leitor procurasse, antes, descobrir suas mil vidas também; seria um acidente. O livro de Virgínia foi recusado: mas um dia ele aparecerá, porque ela é uma das outras vidas que tenho e que precisa ser vivida de algum jeito; ou matada.
Para que tenha vida é preciso viver...
ResponderExcluirmas para ser, a vida não é precisa.