Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Sementes ciganas

Sabe, uma vez eu pensei, pensei, e acreditei que em apenas um dia, sem contar tempo, esquecendo-se dele; em um dia que o sol nasce e se põe, é possível uma existência plena: você em contato profundo com você mesmo, esquecendo o mundo, as leis, o bem, o mal; um contato seu com seu "espírito", e milhões, infinitas sensações acontecem nesse único dia. Tudo bem, isso pode até ser possível – talvez necessário; mas viver é tão surpreendente! A gente, sem perceber, lança sementes ao vento, o tempo todo; quando menos esperamos, alguém traz as flores e os frutos dessas sementes que germinaram, e estão muito felizes. Você não tem certeza de que essa alegria da pessoa veio de uma das sementes que você soprou por aí, mas sente, no fundo, sem conseguir explicar, que, sim, é verdade: foi você. Isso dá um prazer imenso pela vida! Que venham muitos amanhãs; há sempre surpresas. Num dia, não sei qual, mas num dia, alguém virá trazer para você a mais bela flor e o mais saboroso fruto que nasceu de uma semente que se soltou da árvore frondosa e forte que você é, se tornou, será, e num fim, foi; e veja que não será um fim: você estará espalhado por todos os cantos, num ciclo perfeito, divino – eterno.