Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Bronzes e Cristais

Não sou fraco. Nem covarde. Também não fujo. Mas que há guerra, há. Faz silêncio; então enfrento uma luta espiritual. Sangue, bombas e alarmes estão na boca seca, no pulsar do coração e na alvorada com o berreiro dos pássaros. Guerreiam o espírito e a natureza e eu não tenho nada que ver com o prélio; contudo, sou o campo de batalha deles, e não consigo entender porque essas duas potências escolherem o humano para se confrontarem; o humano, eu, que se guerreei um dia na minha vida foi por fome, fome por comida, e não pelos olhos do semelhante que dessa maldade só fui saber depois; aliás, maldade nunca existiu e por isso tiveram de inventá-la. Meu corpo vibra e estala. Tomba, às vezes. Doer não dói. Os mortos e os feridos são expelidos de meu organismo no suor, nas fezes, na lágrima, na urina; ferem-me e me matam por dentro, o espírito e a natureza, e são a causa do câncer. Deviam se conciliar e me deixar em paz de humano que não sabe que sabe das coisas; eu tenho hora certa para saber. Os grandes pensam que podem me destruir; pensam que sou só mais uma criatura dentre outras milhares por aí, vagando à mercê de neurônios, músculos e cérebro sem compreender nada. Espere lá: humano é casa de Deus, portanto, que me respeitem; apesar de ser Deus quem financia essa guerra. Nem corpo eu tenho – pois não hei de ser fraco, covarde ou fugitivo!

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