Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Amor inconsciente

Então eu fiz esta canção:

Você é minha preciosa porção

De fezes

Da qual não consigo me livrar

Acho que gosto de te contemplar

No meu vaso sanitário

Você é o pior cigarro que já fumei

Aquele, que comprei com os últimos centavos

Que eu tinha

Será que eu preciso perguntar

Ao tio Freud

Se devo dar a descarga

Ou parar de fumar

Você?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O segredo da vida

Porque os insetos têm a brutalidade orgânica de Deus e eu tenho uma linguagem exata para isso. Se olho demorado uma barata, eu descubro de onde vim, por exemplo. A barata não diz nada, veja bem, eu é que invento coisas porque barata nos olhos é uma pergunta rogatória. Naquilo que não se exprime eu emprego a minha lexicologia. Num inseto que eu não abro e não sei, que é diferente de um cão que faço babar por um estímulo artificial, é que uso as palavras – é impossível não metaforizar com um mosquito.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Os bons morrem de câncer?

"... também estive mesmo doente, com apertos de alergia nas vias respiratórias; daí, tive de deixar de fumar (coisa tenebrosa!) e, até hoje (cabo de 34 dias!), a falta de fumar me bota vazio, vago, incapaz de escrever cartas, só no inerte letargo árido dessas fases de desintoxicação. Oh coisa feroz. Enfim, hoje, por causa do Natal chegando e de mais mil-e-tantos motivos, aqui estou eu, heróico e pujante, desafiando a fome-e-sede tabágica das pobrezinhas das células cerebrais. Não repare." (carta de João Guimarães Rosa)