Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Edadirecnis"

O fato é que a incapacidade para a solidão leva a amizade e ao amor. Se eu alcanço – dolorosamente, pois não é fácil – todos os meus atributos, medos, fantasias, traumas de infância, e os racionalizo, e me ponho à distância deles para isolar o que chamam de “personalidade”, e que eu chamo de “o Eu”, então essas “evasivas afetivas” serão para distração. Não é fácil porque no começo da vida eu não escapo da imitação, da segurança na imagem do outro, e do desejo pelo outro, como se eu não existisse. Sim, não existo ainda na infância: a criança é um espírito livre, sem “identidade”, sem cara, sem sentimentos, sem nada do que os arautos Humanos pregam. Agora falo de Humanidade: e a Humanidade é vencida na solidão. Quem não conseguir dominar a solidão e fazer uso dela para se conhecer e para se negar em todos os aspectos – visto que há um momento em que se deixa de ser criança, que se aprendem coisas e que essas coisas formam as “patologias” – viverá rodeado de amigos e de amantes. Essas pessoas, eu digo, as outras pessoas, enfim, não tem nada de interessante, que não suas vias atribuladas de existência. Sabe-se muito bem que a existência é uma massa de modelar, as figuras que os outros fazem dela podem ser facilmente esmagadas e refeitas, não tem fixidez, são dissolúveis, piso e imprimo nelas a sola de meu sapato, se eu quiser. (Virgínia)

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