Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Ruelas

Quem quer ser igual a quem tenha plenos direitos? Ah, pois não se quer ter direitos individuais: é preciso ser igual a alguém que já tenha direitos muito bem discriminados. Então os direitos que o outro tem são os que eu quero também. Eu sou igual ao outro? Eu sou na condição em que o outro vive. Que condição? A condição é coisa externa; se for interna, daí é regimento. Direitos iguais são para os que aceitam os regimentos. Que ninguém é igual a ninguém é verdade; mas há a precisão. Estou falando, por acaso, em identidade? Ao que parece – todo rio corre para o mar. No mar os rios são iguais? No entanto, o rio que corre para o mar nunca cessa. Que diabo de metáfora estou criando? Ah, ah: o grande mar mantém rios como ramificações de vidas, o rio é vivo e constantemente rio até que: acho que falo de morte. O mar é o povo do mundo? No mar estão todos os direitos à vida e à morte de tudo o que existe. Ora, o mar não é o povo. Eu sou rio. O único direito do rio é fluir à vontade, naturalmente ao seu destino, que não é sabido, mas é destino. Rios são diferentes: só no mar são iguais. E o curioso é que o rio não enche o mar. Mas os rios de gelo, esses eu não entendo.