Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

quarta-feira, 25 de maio de 2011

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Virgínia, a santa demoníaca

Vamos acreditar que Deus tenha criado o universo e tudo o que nele há. Trabalho feito, foi refestelar-se no seu altíssimo trono. Quem cuidaria de algo tão bom, delicado e perfeito aqui embaixo? O mal. O mal protege o bem. As forças do mal gerenciam a vida animada e inanimada; tudo nasce, morre e renasce. Seria esse mal o diabo? A natureza é a igreja do diabo. Os homens constroem seus templos onde rogam às alturas pela misericórdia do Supremo Criador. Aqui na Terra a maldade tem sido eficaz: ao longo de milhares de séculos tudo tem se transformado e evoluído adequadamente. No reino da natureza, a brutalidade e a crueldade são essenciais. No “reino dos homens”, essa criatura que desenvolveu a “inteligência” (eu diria estupidez) para substituir os poderes inefáveis do instinto, criou o conceito “alma” – os humanos são demônios! Eu sou demoníaca – ai de mim sem um Redentor! Eu minto, engano, sou dissimulada, uso a beleza para matar, os sentidos para ludibriar – oh, o que fiz do mau que era bom? Eu invento lúcifer para espalhar corrupção e me isentar da culpa. Eu dei a pior designação para o mau, que era inocente; eu prostituí as eras e com meu sexo deturparei as vindouras. Não é que exista lúcifer e que eu o invoque e o incorpore: eu dou “inteligência” às forças (instintos) malignas por natureza e assim faço da Terra um inferno. Aquelas perguntas idiotas: bicho, planta, pedra – “eles têm alma”? Só a criatura humana inteligente tem “alma”: essa é a única distinção para o humano – é a criatura procurando se redimir de sua própria inteligência através de um “Criador imaginário”, de uma substância etérea independente que o infla e que é sua “salvação”. O bem para o homem é um esforço, é uma obrigação moral e religiosa; o mal é a felicidade plena, é o gozo dos Céus – ah, se ao menos uma galinha sorrisse para mim.