Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Eu te amo?

E você sabia que o amor pode ser patológico? Bem, na maioria dos casos é. Ah, não me diga que não sabe o que isso significa? Vou ser bem clara: ninguém ama. Você entendeu agora, meu bem? Nós amamos o outro porque somos um abismo de negrumes mentais. Nós sustentamos “amores cobaias”: amigos ou pessoas próximas que usamos e que insistimos num relacionamento por questões meramente biológicas; senão, de estupidez psicológica. Você: pensa que eu te amo? Eu te uso porque não bebo. Sorte que eu escrevo. No entanto, não sou escritora; fumante, eu sou – mas cigarros não saciam, e não me dão falsas garantias que parecem possíveis de se ter, durar, florescer; se são falsas, e passageiras, então é a doce burrice que me faz te amar, que é para sempre poder ficar às margens da verdade e do entendimento, que não quero, ah, eu quero mais é ser criança; que pensem que eu não digo as coisas quando, sim, eu estou dizendo; que o que eu não mostro porque são pobres os elementos disponíveis para explicar minha inteligência é o que eu penso; que eu te ame fora do que o amor permite, palavrinha com o fedor dos doutos. Você sabe que criança é violenta e incomodamente lúcida, não sabe? Por isso amamos nossas cobaias: para não sermos adultos idiotas, que temos de experimentar com a cara e a coragem; mais com a cara, porque uma cara ferida vira arte. Isto é patológico, é incurável, e vá lá linha para pipa. (Virgínia em "O Livro Secreto de Virgínia")

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