Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Discurso interno de Virgínia

...

_ Que solidão. Parece depois de uma queima de fogos de artifício. Aquela quietude; nem carro, nem vento, nem passarinhos.

_ Você não tem amigos?

_ Não tenho nem a mim mesma, vou lá ter amigos? Eu me achei – e me perdi.

Silêncio.

_ Quero morrer.

_ Ora, mas quem não quer?

_ Sei lá. Meu gato. Nunca o ouvi se queixar. Acho que ele sabe que vai morrer na hora certa.

_ E por que você não se adianta?

_ Meu espírito já está de malas prontas; o corpo é quem reluta. Que faço contra ele? Não sei se devo atentar contra meu próprio corpo; o desejo, não nego. Porque não tenho mais nada para fazer aqui e estou enrodilhada na vida feito um inseto na teia da aranha. Alguém precisa de mim para se alimentar?

_ Sim: o seu gato. Você teria coragem de deixá-lo?

_ Foi ele quem me deixou, ainda não lhe disse?

_ Não. Bem, nesse caso, pois, não haverá uma “aranha” e você terá, infelizmente, de esperar.

_ Presa?

_ Sacuda-se, reflita, pense, grite, cante, blasfeme, faça um escândalo; não tem outro jeito – logo você se esgota e facilita as coisas.

Um comentário:

  1. que triste.

    (ouveram algumas indentificaçoes de minha parte para com Virginia)

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