Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O ovo, a galinha, a barata ou o Homem?

Porque os bichos sempre têm razão: se uma barata invade, pelo ralo, meu banho, se pássaros arruínam minha plantação, se mosquitos sugam meu sangue, se formigas desmontam o meu bolo, se morcegos fazem ninho no telhado de minha casa, o que posso fazer? Eles são humildes aborígenes espantados com minha invasão. E usam venenos para covardemente matar esses pobrezinhos curiosos. Ora, mas esta é minha casa, dona vespa, vá procurar abrigo noutro lugar, xô, xô! Será que nunca vamos viver em paz? Qual o terrível problema se vez ou outra um rato vem me visitar? Calamidade pública! Os bichos transmitem doenças! “Os bichos transmitem doenças”: coisa nenhuma!: meu corpo é mil vezes mais fraco e inferior ao deles, isso sim, por isso adoeço. Eu sou “asseada”, “higienizada”, lavo o traseiro com sabonete hidratante, evito o odor suarento, mantenho os cabelos sedosos, brilhantes, soltos, limpos: uma barata é que tem nojo de mim; ela me vê toda lustrosa e pensa, zombeteira: “bonito, pensa que me engana?; nem me venha com esse olhar nauseento, vá!”.

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