Você desperta assustado e não sabe se corre pegar papel e caneta, tirar remela dos olhos, escovar os dentes ou se olhar todo amassado no espelho, duro, esperando, a cortina ainda fechada, o feixe de luz fraquinho: o que me aconteceu? Aconteceu um sonho pesado de sangue debaixo de pedras de uma civilização arruinada. Espere mais alguns anos, e então, quando acontecer de novo, não se levante: dê um tapa no despertador e afunde-se depressa no travesseiro.
“Eu tive um sonho bonito noite passada: um rio me levou, me rodopiou no encontro das águas com as pedras e os barrancos, e não me afoguei, eu ouvi música. Eu me lembro de ter visto uma mulher que caminhou para um rio mas que não pôde andar sobre ele; no entanto, ela andou nele, dentro dele, e nunca mais foi encontrada. Ela é música, hoje. A vida é tão sonho. A música é uma paixão.”
Começa assim. Depois a gente conta o resto da história.
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