Um sopro

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente." (Clarice Lispector)

Almas com almas

sábado, 20 de março de 2010

Martelo e pá na mão

Aconteceu-me de ouvir do vento o que encontrei bem mais tarde em livros. Mas o que mais me decepcionou não foi ter descoberto que repousava plácido nos livros o maior e doloroso pensamento que alcancei pela ignorância, nem tanto pela instrução: a decepção me veio contra todos aqueles que me acusavam de mentiroso quando a verdade sempre esteve presente e às fuças da humanidade; acusavam-me de mentiroso porque a sabedoria realmente estava trancada nos livros e de lá não tinham como vir à tona sem o auxílio de um mártir. Que um descuidado a encontre, é assim que acontece; ou que ele vá viver de mentiras pelo resto da vida por causa de palavras que estão enterradas em bibliotecas. Agora que li e ressuscitei uma porção de verdades, para a segurança nacional, sedaram-me e me aprisionaram, como se eu fosse uma espécie de perigoso livro vivo. Ai daquele que não tem uma pá para desenterrar um livro que sentenciaram injustamente à morte. E ai daquele que não persiste em ouvir do vento, a testemunha do crime, o seu lamento e seu desejo de vingança.

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