Eu existo, Ulisses! Sem origem, sem herança de sangue, memórias, cor, credo, classe social, civilidade; eu existo, neste momento, agora. Como dói existir: dói a ponto de se desejar a morte, depressa, já, cada minuto a mais dessa sensação é insuportável, sufocante. Vem, morte, que estou pronto! Neste único dia que termina, eu existi tão plenamente que não pode haver um depois; não há nada mais que se possa acrescer – continuar é viver uma vida de falsidades. A magnitude desse instante tanto me inflama que pede a fatal combustão: sou estrela que vai explodir. Brilho eterno é o sol. Eu sou o sol? Não: sou um pequenino astro de luz emprestada. O sol: insuportável, inatingível.
E no negror existencial desta noite cósmica eu, o singular astro luminoso universal no seu grau máximo de luminosidade e incandescência – eu estouro.
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